Thierry Meyssan
O Exército israelita prepara-se para a limpeza
étnica da Faixa de Gaza em conformidade com o velho sonho dos supremacistas
judaicos. No entanto, em Israel, e nos Estados Unidos, muitos cidadãos se opõem
a este crime. Enquanto no Médio-Oriente, inúmeros voluntários se preparam para
a salvar atacando o Estado hebreu. Contrariamente à percepção que temos deste
conflito, a impossibilidade de o resolver desde há 76 anos não deriva da má-fé
dos seus protagonistas. Mas da ausência de escolha entre dois sistemas : um
mundo « baseado em regras » ou « no Direito Internacional ».
Este artigo dá seguimento a :
• « Mudança de
paradigma na Palestina », Rede Voltaire, 11 de Outubro de 2023.
• « A censura
militar israelita esconde-vos a verdade », Rede Voltaire, 17 de
Outubro de 2023.
A PREPARAÇÃO DO CRIME
Os acontecimentos precipitam-se em
Israel/Palestina. Todo vêem o Exército israelita (israelense-br) se preparar e
começar a limpeza étnica da Faixa de Gaza.
Depois de ter considerado lançar uma guerra
contra-inssurreicional nos moldes da Batalha de Argel ou da Operação Phoenix no
Vietname, o Estado-Maior israelita planeia arrasar completamente a cidade de
Gaza e depois enviar o seu exército de Terra eliminar os sobreviventes. Segundo
o Tsahal, este plano deveria levar três meses.
O Chefe de Estado-Maior do Exército, o General Herzl Halevi, declarou em 21 de
Outubro : «Entraremos na Faixa de Gaza para uma missão operacional e
profissional : destruir os agentes e as infra-estruturas do Hamas (…) Gaza é
complexa e densa, o inimigo prepara lá muitas coisas, mas nós também estamos a
preparar-nos para ele ».
A Organização Mundial da Saúde (OMS)
insurgiu-se, no dia 14 de Outubro, contra a ordem de evacuação dada pelos
Israelitas aos hospitais de Gaza. Ela salientou que transferir os doentes em
cuidados intensivos os condenava à morte [1]. Três dias
mais tarde, o Hospital Al Ahli foi destruído. Israelitas e Palestinianos
rejeitam ambos a responsabilidade deste massacre. Entretanto, nenhum dos
aliados de Israel procurou vir em ajuda dos Gazenses. Ora, os EUA, a Alemanha e
o Reino Unido dispõem de hospitais de campanha, de medicamentos e de alimentos
que podem lançar por via aérea em Gaza. Na verdade, os três preparavam-se mais
para ajudar o Exército israelita do que ir em socorro de uma população em
perigo.
Os Estados Unidos enviaram ao Tsahal (FDI)
milhares de projécteis de 155 milímetros e um número indeterminado de bombas
penetrantes Joint Direct Attack Munition (JDAM), capazes de destruir tudo a 30
ou 40 metros de profundidade e num raio de 400 metros.
ISRAEL DIVIDIDO
Durante meses, manifestações monstras
denunciaram os aliados supremacistas judaicos de Benjamin Netanyahu e a reforma
de leis fundamentais colocando o Poder judicial sob o controlo do Executivo.
Mas, nada feito, o «Golpe de Estado» teve lugar este Verão.
Por «supremacistas judaicos», eu designo o
Partido Força judaica (Otzma Yehudit), herdeiro assumido do movimento
norte-americano, Liga de Defesa Judaica (Jewish Defense League), do Rabino Meir
Kahane. Esta organização opôs-se a qualquer contacto com a União Soviética e
hoje com a Rússia. Ela apelou à morte de neonazis e assassinou o director do
American-Arab Anti-Discrimination Comittee. É explicitamente racista e opõe-se
a qualquer casamento entre judeus e goïms (não-judeus). Ela está classificada
como organização terrorista nos Estados Unidos desde 2001. Foi secretamente
financiada por Yitzhak Shamir com fundos do Estado de Israel [2].
«Divina Surpresa» o ataque da Resistência
Palestiniana Unida (excepto a Fatah), em 7 de Outubro, deu a ocasião aos
supremacistas judeus para realizar o seu objectivo, muitas vezes enunciado :
limpar etnicamente a Palestina de árabes palestinianos, seja pela transferência
da sua população ou pelo seu extermínio.
Perante a emoção da população israelita e o
perigo ameaçando o Estado hebreu, o Primeiro-Ministro, Benjamin Netanyahu,
formou um governo de emergência como todos os seus predecessores em caso
semelhante. No entanto, onde apenas foram precisas algumas horas a Golda Meir
durante a Guerra dos Seis Dias, ele levou 7 dias durante a Operação « Torrente
de Al-Aqsa ». Um “conselho de guerra” foi formado, no seio do governo, a fim de
manter afastados os supremacistas judaicos.
Mas este gabinete restrito foi, desde a sua
primeira reunião, palco de um confronto entre os partidários da destruição de
Gaza e os de uma operação dirigida contra a Resistência Palestiniana. A maior
parte dos ministros contentou-se em falar em público de uma acção contra o
Hamas, já que a censura militar proíbe dar conta das acções de outras facções
palestinianas. O Ministro da Defesa, o General Yoav Gallant, atirou-se em
simultâneo ao Primeiro-Ministro, que ele considera delirante, e ao seu
antecessor, o General Benny Ganz, que ele julga fraco. Em Junho, o
Primeiro-Ministro proibiu o seu Ministro da Defesa de entrar no seu gabinete no
quartel-general do Exército, uma proibição que se mantêm. Ele recusa trabalhar
com o responsável militar da reparação das infraestruturas, o General Roni
Numa. Ele nomeou um alto funcionário para fazer a mesma coisa que ele, Moshe
Edri, mas este último depende do Ministro supremacista judaico das Finanças,
Bezalel Smotrich, e as relações entre os militares e os civis neste domínio não
estão organizadas, nem sequer previstas. Recordemos que o General Numa
encabeçou manifestações contra o Primeiro-Ministro, há duas semanas. Ele
apresentou um recurso judicial contra as «reformas» que qualifica justamente de
«Golpe de Estado. Além disso, vários ministérios-chave (Segurança Nacional,
Educação, Informação, Inteligência e Cultura) continuam sem directores gerais.
A censura militar que cobre esta desordem é tal que a Ministro da Informação,
Distel Atbaryan, bateu com a porta em plena guerra.
Antes da guerra , os reservistas garantiram em
massa que não obedeceriam a ordens criminosas do governo anti-democrático do
seu país. Hoje em dia eles foram mobilizados e ninguém sabe o que farão.
Benjamin Netanyahu veio visitar alguns para se assegurar da sua fidelidade. De
momento, a infantaria e a cavalaria ( os tanques) israelitas estacionam diante
de Gaza e diante da fronteira libanesa, esperando as ordens que não chegam. No
entanto, a Força Aérea bombardeia a Cidade de Gaza a um ritmo nunca visto. Segundo
as Nações Unidas, ela já reduziu a pó pelo menos um terço da cidade.
Gilad Erdan, embaixador israelita na ONU,
forceja como pode para que todas as agências da ONU e todos os Estados-membros
condenem o Hamas. Se era bem recebido nos primeiros dias da guerra, agora ele
encontra cada vez mais dificuldades para fazer ouvir o ponto de vista do seu
país.
A RESISTÊNCIA DIVIDIDA
Se a Resistência Palestiniana em Gaza
conseguiu reunificar-se graças às consultas organizadas no início do ano pelo
Irão, no Líbano, a Fatah do Presidente Mahmud Abbas prossegue a sua política de
colaboração com Israel. Ele não se importa em dizer a todos os seus
interlocutores que apenas ele não é cúmplice dos Irmãos Muçulmanos (quer dizer,
do Hamas).
Provavelmente, esperava ser assim o único
aceitável aos olhos dos Ocidentais, mas perdeu imediatamente toda a autoridade
moral sobre os Palestinianos em geral e os da Cisjordânia em particular. Assim,
logo que o Presidente norte-americano, Joe Biden, face às manifestações que
sacudiam a Jordânia, anulou a cimeira que para lá havia convocado e na qual o
Presidente Abbas devia participar, este recusou atender o telefonema do
primeiro. A polémica suscitada pela destruição de um hospital em Gaza
convenientemente serviu para mascarar os erros da Autoridade Palestiniana, a
qual já não sabe como se comportar. Ela acaba de sancionar um membro do Comité
Central da Fatah, Abbas Zaki, que elogiou a operação « Torrente de Al-Aqsa » e
lamentou que a Fatah não tenha participado.
O Hamas também está dividido entre os
apoiantes da Resistência em Gaza e os do Islão político no estrangeiro.
Enquanto os seus combatentes se batem ardentemente, Khaled Mechaal, presidente
do gabinete político, ao mesmo tempo que agradecia ao Hezbolla libanês por
manter uma parte do Exército israelita em alerta na fronteira libanesa,
criticou-o por não fazer o suficiente. O objectivo de Meshaal (matar
Israelitas) não é de todo o mesmo que o do Hezbolla (derrotar o Estado de
Israel) e dos seus próprios combatentes do Hamas.
OS ESTADOS UNIDOS DIVIDIDOS
O Presidente norte-americano, Joe Biden,
viajou para Israel a fim de certificar o país do seu apoio. Ele não se
encontrou com os ministros supremacistas judeus, mas participou num conselho de
guerra. Ele disse ter consciência que os Israelitas deviam acabar com o Hamas.
Ele garantiu aos seus interlocutores que os abasteceria em projécteis de 155
minutos e bombas penetrantes... mas pediu-lhes para fazer prova de moderação.
As suas declarações ambíguas foram interpretadas como um deixa andar pelos
partidários da limpeza étnica, e como uma ordem de contenção pelos outros.
Nos Estados Unidos, pacifistas judaicos
manifestaram-se diante do Congresso. A polícia do Capitólio, lembrando-se do
assalto dos Trumpistas, reprimiu-os duramente. Cerca de 500 dentre eles foram
presos e poderão ser levados à justiça.
Um alto funcionário do Departamento de Estado,
Josh Paul, demitiu-se em 18 de Outubro com estrondo, acusando a Administração
Biden de não ter política e, no fundo, de cobrir uma limpeza étnica em
preparação. Não é um tipo qualquer. Depois de uma brilhante carreira no
gabinete do Secretário da Defesa, Robert Gates, e no Congresso, ele era, desde
há 11 anos, o director do Gabinete de Assuntos Políticos e Militares. Era ele
quem validava todas as transferências de armas.
Nesta onda, 441 assistentes parlamentares
reuniram-se num edifício adjacente ao Capitólio para denunciar a falta de
consciência da Administração Biden e dos membros das duas assembleias. Se Josh
Paul era um judeu próximo da J Street, o lóbi pró-israelita anti-Netanyahu,
estes revoltosos provêm tanto da minoria judaica como da minoria muçulmana.
Eles não contestam a luta contra os islamistas políticos do Hamas, mas alertam
contra o realização de um genocídio. Todos tem perfeita consciência que a sua
tomada de posição os expõe a serem despedidos.
Os funcionários do Departamento de Estado,
seja qual for o seu nível na hierarquia, têm a possibilidade de exprimir o seu
desacordo num fórum dedicado a este efeito. Trata-se geralmente de criticar os
abusos de um chefe de serviço. No entanto, agora, os funcionários debatem a
falência moral da Administração Biden que de modo algum leva em conta a opinião
dos seus peritos. Os e-mails mais virulentos foram assinados por muitos colegas
de escritório, de modo que este fórum deu origem a um motim [3].
Mitch McConnell, chefe da minoria Republicana
do Senado, apresentou um projecto de resolução visando interditar a ajuda de
urgência a Israel de 14,3 mil milhões (bilhões-br) de dólares, pedida pelo
Presidente Joe Biden.
Tim Scott (Republicano, Carolina do Sul), candidato à eleição presidencial,
anunciou que recusava votar por Israel. Ele é o chefe dos Republicanos na
Comissão senatorial dos Bancos, da Habitação e dos Assuntos Urbanos.
OS PASSIVOS VASSALOS DOS ESTADOS UNIDOS
Os vassalos dos Estados Unidos persistem em alinhar-se
cegamente com as posições de Washington. Uma reunião à porta fechada do
Conselho de Segurança das Nações Unidas foi palco de um confronto estúpido
entre a representante permanente dos Estados Unidos, Linda Thomas-Greenfield, e
o seu homólogo russo, Vassily Nebenzia. Embora os dois países tenham resolvido
por mútuo acordo numerosas crises no Médio Oriente, a tensão actual entre eles
levou Washington a utilizar o seu veto.
A sessão versava sobre uma proposta russa de
cessar-fogo humanitário imediato. A embaixatriz acusou a Rússia de proteger o
Hamas porque o seu projecto de resolução não o condenava. Ora, por princípio,
todas as acções humanitárias, desde Henry Dunant e a criação da Cruz Vermelha
Internacional, não devem tomar partido no conflito em que intervêm. Quer se
esteja chocado com os comandos do Hamas ou com a Força Aérea Israelita, não se
deve antes de mais condenar um ou outro, nem mesmo condenar as suas acções, mas
ir exclusivamente em socorro das vítimas. Contudo, Washington, adoptando uma
postura moral sonsa e não humanitária ou política, condena a todo o custo. E
não define actos bárbaros, mas sim apenas alguns dos indivíduos que os
perpetram.
No decorrer da sessão, a França, o Japão e o
Reino Unido fizeram comentários semelhantes aos do seu suserano. A França
utilizou o seu veto, pela primeira vez desde 1976, dando assim um cheque em
branco a um genocídio em preparação. Tendo a reunião sido realizada à porta
fechada, as Nações Unidas não divulgaram nem o relatório literal, nem mesmo a
acta, mas o embaixador Nicolas de Rivière reconheceu-o, enquanto o diário Le
Monde o negou.
Esta mesma atitude foi escolhida pelo Ministro
da Justiça francês, Éric Dupont-Moretti. Ele sublinhou perante a Assembleia
Nacional que apoiar os supremacistas muçulmanos do Hamas, era apoiar os actos
terroristas que comete, e que isso leva a 5 anos de prisão. Claro, mas apoiar
os supremacistas judaicos que começaram a destruir a Cidade de Gaza é
exactamente o mesmo crime. Num primeiro tempo, a França proibiu as
manifestações pró-palestinianas, até que o Conselho de Estado revogou esta
disposição que viola o direito constitucional de manifestar suas próprias
opiniões.
Uma segunda sessão do Conselho de Segurança
rejeitou um projecto de resolução idêntico do Brasil. Este retomava
explicitamente a versão oficial segundo a qual o ataque de 7 de Outubro tinha
sido perpetrado unicamente pelo Hamas e condenava a organização. Desta vez,
foram o Reino Unido e a Rússia que o denunciaram. No fim, nenhum texto foi
adoptado.
Paralelamente o Catar conseguiu fazer libertar
dois prisioneiros americano-israelitas do Hamas, em troca da passagem de 20
camiões de ajuda humanitária, de 7 camiões cisterna de carburante e de outros
compromissos não revelados. Antes da guerra, passavam pelo menos 100 por dia. A
questão das trocas de prisioneiros torna-se ainda mais complexa : desde o
início da guerra, as forças de segurança israelitas prenderam e encarceraram em
prisões de alta segurança mais 1. 070 Palestinianos adicionais. Abu Oubaida, o
porta-voz das Brigadas Izz el-Deen al-Qassam, declarou que o Hamas havia
considerado libertar dois outros reféns, mas que Israel não dera seguimento à
sua proposta.
O Primeiro-Ministro britânico Rishi Sunak foi
a Israel depois do Presidente norte-americano. Ele também levou o seu apoio ao
ripostar israelita contra o Hamas. As Defesas do Reino Unido e de Israel estão
ligadas por um Tratado, assinado há dois anos, cujos termos nunca foram
tornados públicos. Em Londres, 100. 000 cidadãos manifestaram-se nas ruas para
tentar dissuadir o seu governo de apoiar o crime em preparação. Para lhes
responder, o Jewish Leadership Council organizou um comício de alguns milhares de
pessoas em Trafalgar Square.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni,
também fez a sua peregrinação a Tel Aviv. O Presidente cipriota, Níkos
Christodoulídis, o Presidente francês, Emmanuel Macron, e o Primeiro-Ministro
interino holandês, Mark Rutte, são esperados em breve.
Celebrando a sua missa dominical, o Papa
Francisco declarou : « A guerra, toda a guerra no mundo — eu penso também na
atormentada Ucrânia — é uma derrota. A guerra é sempre uma derrota ; é uma
destruição da fraternidade humana. Irmãos, parai ! Parai ! ».
O MÉDIO-ORIENTE QUER SALVAR OS PALESTINIANOS
Uma conferência internacional para a paz teve
lugar no Cairo por iniciativa do Presidente Abdel Fatah Al-Sissi. O
Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, o Presidente do Conselho
Europeu, Charles Michel, e o Alto Representante da UE, Josep Borrell, o Rei
Abdalla II da Jordânia, o Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas,
o Presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed Ben Zayed, o Rei do Barém,
Hamad ben Issa al-Khalifa, o Príncipe herdeiro do Koweit, Xeque Meshal al-Ahmad
al-Sabah, o Primeiro-Ministro iraquiano, Mohammad Chia el-Sudani, o Presidente
cipriota, Nikos Christodoulidès, a Presidente do Conselho italiano, Giorgia
Meloni, o Presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, o Primeiro-Ministro
britânico, Rishi Sunak, o Primeiro-Ministro grego, Kyriakos Mitsotakis. No
total estavam representados trinta Estados. Mas nem os Estados-Unidos, nem a
China, nem a Rússia e sobretudo Israel, participavam nesta cimeira. O Emir do
Catar, Tamim bin Hamad Al Thani, chegou aureolado com a libertação dos «reféns
dos EUA», mas não pronunciou qualquer discurso, tendo em vista a posição
anti-Hamas dos Ocidentais.
O Presidente argelino, Abdelmadjid Tebbune,
recusou o convite. A Argélia organizara, em Outubro de 2022, uma Conferência
pela unidade do povo palestiniano. Ela emendou a Resolução da Liga Árabe
salientando que se dessolidarizava dos dois pesos e duas medidas que não
estabelece uma hierarquia entre os direitos dos Palestinianos e as violações
que Israel comete a propósito.
António Guterres declarou que o ataque de 7 de
Outubro « não poderá nunca justificar um castigo colectivo do povo palestiniano
».
Mahmud Abbas, quanto a ele, declarou : « Nós não partiremos, nós permaneceremos
nas nossas terras ».
O Egipto agarra-se à posição da Liga Árabe de 1969 : acolher novos refugiados
palestinianos seria tornar-se cúmplice de limpeza étnica da sua pátria
histórica. Uma posição intelectualmente justa, mas que mascara mal o medo de
uma invasão palestiniana como o Líbano e a Jordânia experimentaram. Então, os
Palestinianos tinham tentado tomar o Poder pela força das armas em Beirute (a
Guerra do Líbano), depois em Amã (Setembro Negro) e aí estabelecer em
substituição o Estado da Palestina.
Em resumo, esta cimeira não serviu para nada :
todos mantiveram suas posições. De um lado, aqueles que queriam condenar o
Hamas, do outro, aqueles que queriam apoiar a Resistência Palestiniana, da qual
o Hamas é a principal componente.
No Médio-Oriente, muitos grupos reúnem
voluntários para salvar os Palestinianos e atacar Israel. Os Guardas da
Revolução iranianos tentam por em pé um estado-maior comum que uniria os
combatentes palestinianos do Hamas, da FPLP e da Jihad Islâmica, os combatentes
libaneses do Hezbolla, do PSNS e da Jamaa Islamiya, mas também Jordanos e
Iraquianos.
PORQUE É QUE NÃO CONSEGUIMOS RESOLVER ESTE
CONFLITO ?
A divisão generalizada, em todos os campos,
torna impossível a tomada de decisões. Embora pareça improvável que Israel
coloque o seu Exército ao serviço do projecto genocida dos seus ministros
supremacistas judeus, o tempo não é um aliado da paz. Enquanto cada campo tenta
estabelecer a sua posição, as bombas continuam a chover duramente sobre Gaza e
as armas a chegar a Israel. Entretanto, já há 1. 300 Israelitas e 4. 137
Palestinianos mortos.
A impossibilidade de resolver o conflito
israelo-palestiniano não reside na má-fé israelita. Na realidade somos todos
cúmplices : ela mostra a inépcia do « mundo baseado em regras » que o
Presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, e o Primeiro-Ministro britânico,
Winston Churchill, tentaram criar em 1942-45, e que aceitamos aquando da
dissolução da URSS. Ele funciona com base nas regras decretadas pelos
Anglo-Saxões, agora explicitadas publicamente pelo G7. Pelo contrário, o
Secretário-Geral do PCUS, Joseph Stalin, e o Chefe do governo francês no
exílio, Charles De Gaulle, exigiram um « mundo baseado no Direito Internacional
». Neste caso, os Estados são soberanos e apenas são obrigados a respeitar os
Tratados que assinaram. Foi sobre esta base que as Nações Unidas foram criadas.
Cabe-nos regressar ao texto fundador, a Carta de São Francisco. Aplicado ao
conflito actual, isto significa primeiro para Israel o respeito pela sua
própria assinatura aposta no final da sua carta de adesão à ONU, e para a
Autoridade Palestiniana, a da sua assinatura aposta nos Acordos de Oslo.
Notas:
[1] «Les ordres d’évacuation adressés par
Israël aux hôpitaux du nord de Gaza sont une condamnation à mort pour les
malades et les blessés», Organisation
mondiale de la Santé, 14 octobre 2023.
[2] The False Prophet: Rabbi Meir Kahane,
From FBI Informant to Knesset Member, Robert I. Friedman, Lawrence Hill Books
(1990).
[3] «Exclusive: ‘Mutiny Brewing’ Inside
State Department Over Israel-Palestine Policy», Akbar Shahid Ahmed, Huffington Post,
October 19, 2023.
https://www.voltairenet.org/article219895.html
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