De facto, o regime de Salazar não foi igual ao
nazismo e a PIDE não foi igual à Gestapo, mas imitaram muito bem.
É bom recordar o que foram os crimes do
fascismo, quais os cidadãos que foram assassinados – a memória da história é
essencial a cada povo para poder encontrar caminhos de futuro. Não se pode
renegar ou branquear a história, mesmo que não pertencesse ao número dos vivos
nenhum dirigente, beneficiário ou colaborador do fascismo, o que nem é o caso.
O fascismo existiu, os fascistas ainda existem
em Portugal e é bom que tudo isto esteja presente na memória colectiva e individual.
Relembremos, pois, aqueles que verteram o seu
sangue pela liberdade e por um mundo melhor:
- 1931, o estudante Branco é morto pela PSP,
durante uma manifestação no Porto;
- 1932, Armando Ramos, jovem, é morto em
consequência de espancamentos; Aurélio Dias, fragateiro, é morto após 30 dias
de tortura; Alfredo Ruas, é assassinado a tiro durante uma manifestação em
Lisboa;
- 1934, Américo Gomes, operário, morre em
Peniche após dois meses de tortura; Manuel Vieira Tomé, sindicalista
ferroviário morre durante a tortura em consequência da repressão da greve de 18
de Janeiro; Júlio Pinto, operário vidreiro, morto à pancada durante a repressão
da greve de 18 de Janeiro; a PSP mata um operário conserveiro durante a
repressão de uma greve em Setúbal
-1935, Ferreira de Abreu, dirigente da
organização juvenil do PCP, morre no hospital após ter sido espancado na sede
da PIDE (então PVDE);
- 1936, Francisco Cruz, operário da Marinha
Grande, morre na Fortaleza de Angra do heroísmo, vítima de maus tratos, é
deportado do 18 de Janeiro; Manuel Pestana Garcez, trabalhador, é morto durante
a tortura;
- 1937, Ernesto Faustino, operário; José
Lopes, operário anarquista, morre durante a tortura, sendo um dos presos da
onda de repressão que se seguiu ao atentado a Salazar; Manuel Salgueiro
Valente, tenente-coronel, morre em condições suspeitas no forte de Caxias;
Augusto Costa, operário da Marinha Grande, Rafael Tobias Pinto da Silva, de
Lisboa, Francisco Domingues Quintas, de Gaia, Francisco Manuel Pereira,
marinheiro de Lisboa, Pedro Matos Filipe, de Almada e Cândido Alves Barja,
marinheiro, de Castro Verde, morrem no espaço de quatro dias no Tarrafal,
vítimas das febres e dos maus tratos; Augusto Almeida Martins, operário, é
assassinado na sede da PIDE (PVDE) durante a tortura ; Abílio Augusto Belchior,
operário do Porto, morre no Tarrafal, vítima das febres e dos maus tratos;
- 1938, António Mano Fernandes, estudante de
Coimbra, morre no Forte de Peniche, por lhe ter sido recusada assistência
médica, sofria de doença cardíaca; Rui Ricardo da Silva, operário do Arsenal,
morre no Aljube, devido a tuberculose contraída em consequência de espancamento
perpetrado por seis agentes da Pide durante oito horas; Arnaldo Simões
Januário, dirigente anarco-sindicalista, morre no campo do Tarrafal, vítima de
maus tratos; Francisco Esteves, operário torneiro de Lisboa, morre na tortura
na sede da PIDE; Alfredo Caldeira, pintor, dirigente do PCP, morre no Tarrafal
após lenta agonia sem assistência médica;
- 1939, Fernando Alcobia, morre no Tarrafal, vítima
de doença e de maus tratos;
- 1940, Jaime Fonseca de Sousa, morre no
Tarrafal, vítima de maus tratos; Albino Coelho, morre também no Tarrafal; Mário
Castelhano, dirigente anarco-sindicalista, morre sem assistência médica no
Tarrafal;
-1941, Jacinto Faria Vilaça, Casimiro
Ferreira; Albino de Carvalho; António Guedes Oliveira e Silva; Ernesto José
Ribeiro, operário, e José Lopes Dinis morrem no Tarrafal;
- 1942, Henrique Domingues Fernandes morre no
Tarrafal; Carlos Ferreira Soares, médico, é assassinado no seu consultório com
rajadas de metralhadora, os agentes assassinos alegam legítima defesa (?!);
Bento António Gonçalves, secretário-geral do P. C. P. Morre no Tarrafal;
Damásio Martins Pereira, fragateiro, morre no Tarrafal; Fernando Óscar Gaspar,
morre tuberculoso no regresso da deportação; António de Jesus Branco morre no
Tarrafal;
- 1943, Rosa Morgado, camponesa do Ameal
(Águeda), e os seus filhos, António, Júlio e Constantina, são mortos a tiro
pela GNR; Paulo José Dias morre tuberculoso no Tarrafal; Joaquim Montes morre
no Tarrafal com febre biliosa; José Manuel Alves dos Reis morre no Tarrafal;
Américo Lourenço Nunes, operário, morre em consequência de espancamento
perpetrado durante a repressão da greve de Agosto na região de Lisboa;
Francisco do Nascimento Gomes, do Porto, morre no Tarrafal; Francisco dos Reis
Gomes, operário da Carris do Porto, é morto durante a tortura;
- 1944, general José Garcia Godinho morre no
Forte da Trafaria, por lhe ser recusado internamento hospitalar; Francisco
Ferreira Marques, de Lisboa, militante do PCP, em consequência de espancamento
e após mês e meio de incomunicabilidade; Edmundo Gonçalves morre tuberculoso no
Tarrafal; assassinados a tiro de metralhadora uma mulher e uma criança, durante
a repressão da GNR sobre os camponeses rendeiros da herdade da Goucha
(Benavente), mais 40 camponeses são feridos a tiro.
- 1945, Manuel Augusto da Costa morre no
Tarrafal; Germano Vidigal, operário, assassinado com esmagamento dos
testículos, depois de três dias de tortura no posto da GNR de Montemor-o-Novo;
Alfredo Dinis (Alex), operário e dirigente do PCP, é assassinado a tiro na
estrada de Bucelas; José António Companheiro, operário, de Borba, morre de
tuberculose em consequência dos maus-tratos na prisão;
- 1946, Manuel Simões Júnior, operário
corticeiro, morre de tuberculose após doze anos de prisão e de deportação;
Joaquim Correia, operário litógrafo do Porto, é morto por espancamento após
quinze meses de prisão;
-1947, José Patuleia, assalariado rural de
Vila Viçosa, morre durante a tortura na sede da PIDE;
- 1948, António Lopes de Almeida, operário da
Marinha Grande, é morto durante a tortura; Artur de Oliveira morre no Tarrafal;
Joaquim Marreiros, marinheiro da Armada, morre no Tarrafal após doze anos de
deportação; António Guerra, operário da Marinha Grande, preso desde 18 de
Janeiro de 1934, morre quase cego e após doença prolongada;
- 1950, Militão Bessa Ribeiro, operário e
dirigente do PCP, morre na Penitenciária de Lisboa, durante uma greve de fome e
após nove meses de incomunicabilidade; José Moreira, operário, assassinado na
tortura na sede da PIDE, dois dias após a prisão, o corpo é lançado por uma
janela do quarto andar para simular suicídio; Venceslau Ferreira morre em
Lisboa após tortura; Alfredo Dias Lima, assalariado rural, é assassinado a tiro
pela GNR durante uma manifestação em Alpiarça;
- 1951, Gervásio da Costa, operário de Fafe,
morre vítima de maus tratos na prisão;
- 1954, Catarina Eufémia, assalariada rural,
assassinada a tiro em Baleizão, durante uma greve, grávida e com uma filha nos
braços;
- 1957, Joaquim Lemos Oliveira, barbeiro de
Fafe, morre na sede da PIDE no Porto após quinze dias de tortura; Manuel da
Silva Júnior, de Viana do Castelo, é morto durante a tortura na sede da PIDE no
Porto, sendo o corpo, irreconhecível, enterrado às escondidas num cemitério do
Porto; José Centeio, assalariado rural de Alpiarça, é assassinado pela PIDE;
- 1958, José Adelino dos Santos, assalariado
rural, é assassinado a tiro pela GNR, durante uma manifestação em
Montemor-o-Novo, vários outros trabalhadores são feridos a tiro; Raul Alves,
operário da Póvoa de Santa Iria, após quinze dias de tortura, é lançado por uma
janela do quarto andar da sede da PIDE, à sua morte assiste a esposa do
embaixador do Brasil;
- 1961, Cândido Martins Capilé, operário
corticeiro, é assassinado a tiro pela GNR durante uma manifestação em Almada;
José Dias Coelho, escultor e militante do PCP, é assassinado à queima-roupa
numa rua de Lisboa;
- 1962, António Graciano Adângio e Francisco
Madeira, mineiros em Aljustrel, são assassinados a tiro pela GNR; Estêvão Giro,
operário de Alcochete, é assassinado a tiro pela PSP durante a manifestação do
1º. de Maio em Lisboa;
- 1963, Agostinho Fineza, operário tipógrafo
do Funchal, é assassinado pela PSP, sob a indicação da PIDE, durante uma
manifestação em Lisboa;
- 1964, Francisco Brito, desertor da guerra
colonial, é assassinado em Loulé pela GNR; David Almeida Reis, trabalhador, é
assassinado por agentes da PIDE durante uma manifestação em Lisboa;
- 1965, general Humberto Delgado e a sua
secretária Arajaryr Campos são assassinados a tiro em Vila Nueva del Fresno
(Espanha), os assassinos são o inspector da PIDE Rosa Casaco e o subinspector
Agostinho Tienza e o agente Casimiro Monteiro;
- 1967, Manuel Agostinho Góis, trabalhador
agrícola de Cuba, more vítima de tortura na PIDE;
- 1968, Luís António Firmino, trabalhador de
Montemor, morre em Caxias, vítima de maus tratos; Herculano Augusto,
trabalhador rural, é morto à pancada no posto da PSP de Lamego por condenar
publicamente a guerra colonial; Daniel Teixeira, estudante, morre no Forte de
Caxias, em situação de incomunicabilidade, depois de agonizar durante uma noite
sem assistência;
- 1969, Eduardo Mondlane, dirigente da
Frelimo, é assassinado através de um atentado organizado pela PIDE;
- 1972, José António Leitão Ribeiro Santos,
estudante de Direito em Lisboa, militante do MRPP, é assassinado a tiro durante
uma reunião de apoio à luta do povo vietnamita e contra a repressão, o seu
assassino, o agente da PIDE Coelho
da Rocha, viria a escapar-se na
“fuga-libertação” de Alcoentre, em Junho de 1975;
- 1973, Amilcar Cabral, dirigente da luta de
libertação da Guiné e Cabo Verde, é assassinado por um bando mercenário a soldo
da PIDE, chefiado por Alpoim Galvão;
- 1974, (dia 25 de Abril), Fernando Carvalho
Gesteira, de Montalegre, José James Barneto, de Vendas Novas, Fernando
Barreiros dos Reis, soldado de Lisboa, e José Guilherme Rego Arruda, estudante
dos Açores, são assassinados a tiro pelos pides acoitados na sua sede na Rua
António Maria Cardoso, são ainda feridas duas dezenas de pessoas A PIDE acaba
como começou assassinando.
Aqui não ficam contabilizadas as inúmeras
vítimas anónimas da PIDE, GNR e PSP em outros locais de repressão. Mas ainda
podemos referir, duas centenas de homens, mulheres e crianças massacradas a
tiro de canhão durante o bombardeamento da cidade do Porto, ordenada pelo
coronel Passos e Sousa, na repressão da revolta de 3 de Fevereiro de 1927.
Dezenas de mortos na repressão da revolta de 7 de Fevereiro de 1927 em Lisboa,
vários deles assassinados por um pelotão de fuzilamento, às ordens do capitão
Jorge Botelho Moniz, no Jardim Zoológico. Dezenas de mortos na repressão da
revolta da Madeira, em Abril de 1931, ou outras tantas dezenas na repressão da
revolta de 26 de Agosto de 1931. Um número indeterminado de mortos na
deportação na Guiné, Timor, Angra e no Cunene. Um número indeterminado de mortos
devido à intervenção da força fascista dos “Viriatos” na guerra civil de
Espanha e a entrega de fugitivos aos pelotões de fuzilamento franquistas.
Dezenas de mortos em São Tomé, na repressão ordenada pelo governador Carlos
Gorgulho sobre os trabalhadores que recusaram o trabalho forçado, em Fevereiro
de 1953. Muitos milhares de mortos durante as guerras coloniais, vítimas do
Exército, da PIDE, da OPVDC, dos “Flechas”, etc.
De facto, o regime de Salazar não foi igual ao
nazismo e a PIDE não foi igual à Gestapo, mas imitaram muito bem.
(O texto com a relação das mortes do fascismo,
assim como a parte final, é da autoria da Comissão “Abril Revolucionário e
Popular”)
https://temposdecolera.blogs.sapo.pt/95435.html
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