José Petrosino
Um tribunal argentino acaba de decidir, em
12 de Abril 2024, que o Irão e o Hezbolla seriam os responsáveis dos atentados
mortíferos contra a embaixada de Israel em Buenos Aires e a Associação Mutua
Israelita Argentina (AMIA) nos anos 90. É a conclusão de um processo de
falsificação que revolta as vítimas.
Reproduzimos aqui um antigo artigo de José Petrosino, o melhor conhecedor deste
assunto.
Comecei a minha «investigação oficiosa» sobre
os dois atentados em Buenos Aires no dia a seguir ao atentado à Associação
Mútua Israelita Argentina (AMIA), em 18 de Julho de 1994. Até então, tinha
acreditado na versão oficial sobre o atentado contra a embaixada israelita dois
anos antes, em 17 de Março de 1992 : «Foram os Árabes», dizia-se, sem prestar
muita atenção à questão.
A repetição da explosão, 28 meses mais tarde,
mais traiçoeira e contra um alvo inteiramente argentino, impressionou-me muito,
porque era impensável que um tal drama, inédito no mundo da época, pudesse
repetir-se num mesmo país.
Pensei de imediato que era impossível para «os
Árabes» lesar os seus inimigos sionistas, sendo simultaneamente tão cruéis para
um país amigo — há quase 200 outros países no mundo que podiam visar e onde
lhes seria mais fácil lançar ataques do que na Argentina, que era para eles um
país longínquo em todos os aspectos.
A partir daí, estava certo que « alguma coisa
diferente » do que era suposto ser tido como explicação incontestável se
escondia por trás dos 2 «atentados».
Quase instantaneamente, os governos de Israel
e dos Estados Unidos (como se tinha passado no caso do atentado contra a
embaixada) « afirmaram » que o Irão e o Hezbolla eram os seus atacantes (como
tinham eles sabido tão rapidamente e com uma tal certeza?), e era notório que
tinham conseguido impor ao «governo» do fraco Carlos Menem [1] esta
«hipótese» que servia os seus interesses, como única pista a seguir, com
exclusão de qualquer outra. Foi o início de uma dissimulação cúmplice, e
descarada, que prossegue sem problemas até hoje.
Ao mesmo tempo, os «acusados» (erradamente), o
Irão e o Hezbolla, condenavam o «atentado » e negavam categoricamente ter o
menor vínculo com este, o que sempre mantiveram [2] .
No início de 1995, adquiri a certeza absoluta
da inexistência da viatura armadilhada (a «marca» muçulmana dos
atentados [3]),
«certeza» que havia sido imposta pelos «salvadores israelitas» (até à sua
chegada em 19 de Julho de 1994 à noite, todos os peritos consultados pelos
média (mídia-br) haviam afirmado que a explosão tinha sido interna) e que
falsas pistas tinham sido plantadas em locais escolhidos para fazer parecer
verídica a história da viatura armadilhada.
O que me levou à conclusão que estávamos em
presença de «atentados de Estado» e que, uma vez que não se tratava de
muçulmanos, era muito mais razoável supor que os mentirosos e falsificadores
eram os inimigos dos « Árabes » e que os haviam acusado instantaneamente.
Estas considerações e a água que correu sob as
pontes depois, confirmando que o abafar da investigação relevava uma certa
«razão de Estado» (imutável) para os seis «governos» argentinos que se
sucederam, levaram-nos, a mim e a um grupo de amigos trabalhando em conjunto
sobre o assunto desde 2002, a alargar a nossa investigação em todos os seus
aspectos : enquadramento histórico, contexto internacional, materialidade dos
factos, «nomes», imputações e consequências, um todo que denominamos : « a
pista dos 3 Estados » (Israel e/ou os EUA: os autores, os beneficiários, e a
parte nacional numa cumplicidade forçada
Examinemos brevemente cada um desses pontos:
OS ANTECEDENTES
Os Estados Unidos recorreram no passado por
diversas vezes às operações ditas de «falsa bandeira», para lançar estratégias
previamente concebidas.
Reconhecidas como tais são : a explosão do
couraçado Maine no porto de Havana, em 1898, para desalojar a Espanha do seu
império da América ; o naufrágio do Lusitânia para se envolver na Primeira
Guerra Mundial ; o assédio do Império Japonês em 1941 com um embargo
petrolífero total que não lhe deixou outra saída senão um «ataque surpresa» a
Pearl Harbor e um «deixa andar» dos Ianques para justificar a sua entrada na
Segunda Guerra Mundial ; o «incidente» do Golfo de Tonkin que levou à invasão
do Vietname em 1964 ; e o atentado mais recente, embora ainda controverso, o do
11-de-Setembro que permitiu a invasão da Ásia Central [4].
Israel também pôs em prática este tipo de «operações». A que teve maior difusão
pública foi a do «caso Lavon» no Egipto, em 1954.
O CONTEXTO INTERNACIONAL
O acontecimento determinante («a charneira
histórica»), que perturbou consideravelmente as relações internacionais, foi a
inesperada implosão da URSS em 1990, concomitante com a tomada de posse
presidencial de Carlos Menem, em plena crise hiperinflacionária do fim do
reinado de Raúl Alfonsin (1983-1989) [5],
o que colocou o país numa situação de extrema fraqueza.
Entre outras coisas, isso provocou uma mudança
na posição do Império Ianque, que se tornou de repente o único sobre a Terra a
fazer frente ao Irão dos Aiatolas. Este passou de «inimigo do inimigo» a novo
«inimigo» (único), já que o Império se viu sem nenhum grande inimigo à vista.
As relações entre a Argentina e o Irão foram
evidentemente afectadas por esta mudança na cena mundial.
Durante os anos 80 e porque isso era
conveniente para os Ianques, nós, os Argentinos, havíamos sido os fornecedores
preferenciais de armas ao Irão, para fazer face à guerra de desgaste que eles
lhes tinham imposto através do seu fantoche Saddam Hussein [6], e as
nossas relações com o Irão, tradicionalmente muito boas, tornaram-se ainda mais
estreitas.
O Irão começou então a desenvolver uma
estratégia de inserção na região usando a Argentina como plataforma (estratégia
que mais tarde, depois de ter «perdido» a Argentina devido às falsas acusações
«de atentados, teve que recomeçar na Venezuela) [7].
Isso, o criminoso pago e infame traidor à
pátria, o Procurador Alfredo Nisman, desprezando o mais elementar bom senso e
crítica saudável, pretendia utilizar no seu ridículo dossiê de acusação
(exageradamente inflacionado) como precedente útil ao Irão para cometer os
«atentados», alegando que esses ocorreram porque «o Irão queria espalhar a
revolução islâmica na Argentina» [8].
O contrário é que é verdadeiro : precisamente,
na medida em que procuravam implantar-se, a última coisa que eles teriam feito
seria bombardear sem discernimento a capital do país onde tentavam desenvolver
esta estratégia de inserção. Isso equivaleria actualmente a bombardear Caracas
duas vezes em 28 meses.
O «MÓBIL» DE ISRAEL E/OU DOS ESTADOS UNIDOS
E O «NÃO MÓBIL» DO IRÃO
Para permanecer no Poder, Carlos Menem,
alinhou-se inteiramente com a política do Império (não tinha escolha), mas
teria recusado romper com os Iranianos como exigiam as novas estratégias dos
Estados Unidos, e as relações continuaram a reforçar-se no decurso dos anos
1990 e 1991.
Provavelmente, agia assim devido às lucrativas
propinas que ele e os seus acólitos recebiam pelas armas que os Persas
compravam para os Muçulmanos bósnios (o dito «contrabando de armas com destino
à Croácia e ao Equador») [9].
Em Dezembro de 1991 (apenas três meses antes
do atentado à embaixada de Israel), ocorreu um acontecimento revelador : um
navio carregado no porto de Campana com peças de um reactor experimental
destinadas ao Irão, no quadro de um contrato que o Presidente Raúl Alfonsin
havia assinado quando as relações com o Irão eram úteis aos Ianques, havia sido
impedido de continuar e estes contratos foram suspensos. Mas não foram anulados
e foi iniciada uma negociação que terminou em 1996 (mais uma prova que o Irão não
podia ser o mandante das bombas).
Esta suspensão « no embarque » tinha
manifestamente sido decidida no último minuto e sob uma pressão extrema. Mas
ela talvez não tenha impedido a explosão na embaixada israelita, projecto que
estava já em curso de realização.
Assim que isto aconteceu, Israel e os Estados
Unidos acusaram imediatamente o Hezbolla e o Irão de forma conclusiva e
exclusiva. A investigação foi abandonada com o assentimento de Israel, tendo o
Comissário Bisordi sido despedido (e promovido), logo no fim do primeiro ano,
pelas suas pretensas qualidades como investigador.
Mas as relações com o Irão não foram afectadas
pelas falsas acusações, elas foram até reforçadas. Trata-se de um facto crucial
e facilmente verificável, que exclui totalmente o Irão e fornece um motivo
claro aos seus inimigos, Israel e os Estados Unidos, para agirem dessa maneira.
Em 1993, após a explosão na embaixada e antes
da explosão na AMIA, a Argentina entregou ao Irão um carregamento de Urânio
235, enriquecido a 20 %, para o seu reactor de isótopos médicos. Uma razão
suplementar, e não das menores, para o Irão concluir um bom acordo com a
Argentina.
É por isso que esta informação-chave foi
ocultada pelo criminoso Procurador Alberto Nisman. Ela tornou-se conhecida
porque dois anos antes os Iranianos tinham esgotado os seus stocks
(estoques-br) do produto e eclodiu um conflito internacional sobre o seu
fornecimento ; foi então que eles declararam : «que o Urânio 235, enriquecido a
20 %, que tinham esgotado, lhes fora fornecido pelos Argentinos em 1993».
Face à «teimosia» de Carlos Menem em manter estas boas relações, o « segundo
aviso » da AMIA chegou, muito mais sangrento e abatendo-se desta vez sobre um
alvo totalmente argentino, o que implicava que a próxima «mensagem», se
necessária, visaria a sede do governo, e com o Presidente Menem nas
instalações.
Não houve necessidade de um «terceiro
atentado», Carlos Menem tomou a iniciativa e depois de ter falado com o enviado
«secreto» do Primeiro-Ministro israelita Yitzhak Rabin, Dov Schomorak, que
tinha chegado de Israel na noite de 19 de Julho de 1994, incógnito no meio dos
«socorristas» israelitas, pronunciou uma das suas célebres frases : «Há provas
semi-completas da implicação do Irão no atentado à AMIA». Após o que, é claro,
não houve outros «bombardeios».
Esta visita, que se havia realizado em
segredo, foi revelada pelo jornalista Horacio Verbitsky no quotidiano Página12
no aniversário do atentado em 2004 [10]
No entanto, o jornalista atribui a ocultação
da injunção israelita ao facto de que alguns queriam proteger os Sírios, que
para ele (e devido à sua lealdade ao judaísmo) eram os verdadeiros culpados, no
lugar e em vez do Irão.
Este absurdo é igualmente apoiado por muitos
Judeus e seus acólitos que rejeitam, de imediato, a mera possibilidade que
Israel possa ter estado implicado não só no encobrimento, mas também
directamente na perpetração efectiva do crime.
O livro publicado na semana passada por
Horacio Lutzky, Brindando sobre los escombros («Trinquer sur les
décombres» [11] vai
neste sentido [12].
A MATERIALIDADE DO EVENTO
Ela decorre do facto da explosão ter sido
interna e da existência de ostensivas pistas falsas lá plantadas para impor a
falsa ideia de uma viatura armadilhada.
A este respeito, veja o excelente documentário
do jornalista de investigação Carlos de Napoli produzido pelo canal History
Channel – é esclarecedor — foi feito para o aniversário de 2009, foi visto
fugazmente e depois escondido porque ele expõe precisamente a falsidade do
carro armadilhado. Ele foi posto emlinha (“online”-ndT) no YouTube em Março
passado e retirado logo depois.
Os depoimentos e argumentos de peritos ouvidos
durante a audiência permitiram concluir que a explosão fora interna. Porém, o
Tribunal TOF3 (Tribunal Oral Federal nº 3), sob pressão, mantinha a falsa
hipótese do Juiz de instrução, Juan José Galeano, a da viatura armadilhada. Era
o minimum minimorum ao qual os sionistas tiveram que aderir. Mas isso ia deixar
inconsistências intransponíveis a resolver para o investigador que sucederia a
Galeano.
Evidentemente, o sucessor, Alberto Nisman, não
esclareceu nada (e nunca poderia ter feito isso, uma vez que a viatura
armadilhada não existia) e estas incoerências subsistem. O julgamento seguinte
de Carlos Telleldin [concessionário de carros pago para prestar «confissões»
falsas] abre a possibilidade de demolir esta mentira.
Os explosivos foram trazidos de edifícios
vizinhos no sábado ou domingo, quando o edifício da AMIA estava vazio (o que
explica porque a explosão teve lugar numa segunda-feira, às 9h50).
E eles foram dispostos discretamente de
maneira a simular « uma explosão diante da porta ». O que fora mal feito na
embaixada, uma vez que que o « desorientado » José Luis Manzano teve que mandar
cavar uma falsa cratera na rua.
Eles colocaram portanto explosivos (de
Amonal), assim como peças de uma carrinha Renault Trafic, entre os sacos de
entulho que se encontravam no hall junto à porta – resultado de uma limpeza do
rés-do-chão efectuada no sábado, esperando que um camião basculante venha
retirá-los na manhã de segunda-feira — com um mecanismo que os fazia explodir
quando eram deslocados (razão pela qual a explosão se deu alguns minutos após a
chegada do camião basculante, quando os trabalhadores deslocaram os destroços
para os começar a carregar).
Fizeram explodir igualmente as colunas
frontais junto à porta com TNT, que explodiu em ressonância com o Amonal
contido nos entulhos – razão pela qual muitas testemunhas ouviram 2 explosões
muito próximas uma da outra. Estas duas explosões excluem totalmente a hipótese
da viatura armadilhada.
OS NOMES
Conseguimos identificar alguns membros dos
comandos israelitas que estiveram implicados.
• Rafael Eldad: antigo adido cultural
(1990-1994) e antigo embaixador (2004-2008).
O seu perfil não era o de uma personalidade do
mundo da cultura, nem nada desse género, mas o de um operacional de tempera bem
forte.
Ele tinha deixado a embaixada poucos minutos
antes da explosão de 1992 para se dirigir à AMIA e estava lá na manhã fatídica
de 18 de Julho, tinha igualmente abandonado o edifício da AMIA pouco antes da
explosão de 1994.
Por que é que ele foi à AMIA a 18 de Julho e
por que é que partiu antes da chegada dos dirigentes da AMIA/DAIA, que se
encontravam num café vizinho e se aproximaram do edifício quando ouviram a
explosão?
Certas declarações que ele fez enquanto
embaixador e certos deslizes nas suas declarações indicam que esta visita
estava ligada ao « atentado bombista».
Voltou a ser embaixador em Agosto de 2004,
quando o encobrimento estava no seu auge : a decisão do TOF3 era iminente, e
sabia-se que cancelaria a investigação do Juiz de instrução Galeano e talvez,
após aquilo que se viu durante as audiências, refutaria a hipótese da falsa
viatura armadilhada – a solenidade finalmente não teve lugar, e talvez Eldad
tenha algo a ver com o facto de ela não ter tido lugar.
Rafael Eldad inverteu a situação, salvou a
falsa viatura armadilhada e conseguiu que um de seus trunfos, o inefável
Alberto Nisman, que eles usaram ao máximo até agora, tome a chefia da operação
de dissimulação no lugar de Juan José Galeano, caído em desgraça.
• Ronie Gornie : Antigo chefe de
segurança da embaixada e membro do Shin Bet. Ele deixou a embaixada alguns
minutos antes da explosão de 1992, depois de o guarda na porta de entrada lhe
dizer que se ía embora porque era o fim do seu turno e o seu substituto não
tinha chegado.
Pouco depois, ao anoitecer do dia 17 de Março
de 1992, ele dirigiu-se ao 15º Comissariado, responsável pela investigação do
atentado, onde já se tinha como hipótese de trabalho a «explosão interna»,
graças a uma «perícia» realizada pelos bombeiros enviados especialmente por
Carlos Menem, quando foi informado da explosão : «para determinar o epicentro
da explosão» e, com base nesta determinação preliminar, tinha-se pedido a
prisão daqueles que tinham descarregado material de manhã.
E Ronie Gornie pediu-lhes para abandonar esta
hipótese, já que ele, que tinha uma grande experiência de atentados, «sabia»
que uma viatura armadilhada tinha sido usada!!!
A partir daí não se fala mais de explosão
interna e a Polícia Federal consagra-se a colocar no local falsas provas para
inculcar a fábula da viatura armadilhada.
Naquela noite, na sede do governo, o Ministro
do Interior, José Luis Manzano, declara aos jornalistas: «Encontramos a cratera
da explosão na rua em frente à porta da embaixada».
Era falso : no dia seguinte, centenas de
jornalistas chegaram à procura da «cratera», mas não a encontraram em lado
nenhum. No sábado, dia 21, eles ainda não a tinham encontrado. O prestigiado
quotidiano La Nación afirmou-o num artigo nesse dia e no dia seguinte, domingo
22, reafirmou-o num outro artigo dizendo : «que nenhum dos 12 jornalistas de La
Nación colocados na zona do atentado tinham conseguido encontrar a cratera
anunciada por Manzano na terça-feira à noite».
Foram os agentes da polícia federal que na semana seguinte cavaram um buraco
com ajuda de pás e picaretas, o qual se tornou desde então : «a cratera da
explosão».
• Aharon Edry: Antigo militar israelita e
antigo polícia israelita. Foi nomeado intendente 3 meses antes do ataque à
bomba contra a AMIA. Um posto que não existia até então, justamente no momento
em que o «atentado» deve ter começado a ser planeado.
Não sofreu nem um arranhão durante a explosão.
Segundo ele, encontrava-se no fundo do segundo andar e ajudou as pessoas que aí
estavam a sair pela ponte que ligava a AMIA ao fundo da sinagoga da rua
Uriburu, « que havia sido construída recentemente » e por sua iniciativa
própria , porque não havia sido prevista nas obras de renovação recentes.
Ele proferiu declarações rocambolescas nos
média (mídia-br) sobre «o modo como se salvara e tinha ajudado os outros », mas
nenhum dos sobreviventes do 2º andar se lembra dele.
• Joseph Bodansky: antigo membro dos
serviços de Inteligência do Exército israelita, pertencente à direita israelita
mais radical, o Likud, colocado em Washington e tendo laços estreitos com o
grupo dos neoconservadores [13] o
qual, mais tarde, em 2001, acederia ao governo ianque com George Bush Jr.
Mais do que um nome no atentado contra a AMIA,
Bodansky é «o elo perdido» entre este atentado e outros, atribuídos ao
«terrorismo internacional».
Em 1994, era conselheiro do bloco republicano
no Senado norte-americanos em matéria de contraterrorismo; três semanas após o
atentado, um dos seus relatórios apareceu no dossiê descrevendo em detalhe os
autores e a mecânica do atentado, seguindo a falsa acusação de Israel e dos EUA
contra o Irão/Hezbolla, à qual ele acrescentava o governo sírio.
Evidentemente, ele não fornecia nenhuma prova
palpável para apoiar uma elucidação tão rápida e completa.
Em 2000, quando o encobrimento estava ameaçado pela mudança de governo, ele
voltou incognito à Argentina para se encontrar secretamente com membros da
Comissão Bicameral, a quem «alertou» para a possibilidade de um terceiro
atentado, o qual, segundo ele, poderia visar «um alvo não-judaico, incluindo
crianças». Isso provocou uma grande consternação entre seus interlocutores
parlamentares – segundo o jornal Rio Negro, único média a noticiar a visita.
A CONTINUAÇÃO
Depois de o Presidente Menem ter falsamente
acusado os Persas, não houve mais atentados e as relações da Argentina com o
Irão deterioraram-se. As relações diplomáticas foram reduzidas ao nível de
encarregados de negócio nos dois países, e as relações comerciais foram
mantidas, embora a um nível inferior ao anterior à Operação AMIA.
Em 1996, as negociações do contrato que tinha
sido suspenso no porto de Campana em Dezembro de 1991 foram concluídas, com a
Argentina oferecendo uma compensação pelo pequeno reactor experimental que não
havia sido entregue e concluindo aquilo que estava pendente.
Em 1998, graças ao corrupto banqueiro Rubén
Beraja, o transfuga iraniano Abu al-Qasim Mesbahi apareceu no caso, era um
acusador inveterado do governo do seu país. Galeano deu-lhe crédito e
divulgou-o nos média, ao que os Iranianos reagiram reduzindo as suas compras a
zero.
Quando o Presidente Fernando de la Rúa [14] entrou
em funções, eles aproveitaram a situação para relançar o comércio, que
aumentaram, com altos e baixos, até o Irão se tornar o segundo comprador de
óleo de soja argentino, em detrimento da Índia.
A política dos Iranianos consistiu em «
engolir » as falsas acusações, como gentlemen ingleses, desenvolvendo, em
simultâneo, uma diplomacia fina e persistente para que os seus inimigos não
conseguissem alcançar o objectivo das bombas, a saber, uma ruptura total nas
relações com a Argentina.
Os seus esforços foram coroados no ano passado
quando, em Setembro, no seu discurso nas Nações Unidas, a Presidente Cristina
Fernández de Kirchner [15] aceita
a sua proposta de negociações, governo a governo, para resolver a questão das
falsas acusações contra os seus funcionários, proposta que os Persas tinham
tornado pública por ocasião do aniversário, do atentado, no ano passado.
Amanhã, 18 de Julho, teremos, no festival da
hipocrisia instalado no palco do teatro ad hoc da rua Pasteur, a manifestação
máxima da ignomínia: a dissimulação daquilo que se passou na AMIA. Como todos
os anos, os impostores « pais de vítimas » lá estarão, acusando o governo
argentino do encobrimento que eles e os funcionários no activo têm favorecido –
suportando «estoicamente» estas críticas – e eles responderão, imperturbáveis,
«que agora, sim, vai haver uma investigação séria até as últimas consequências»
; depois tudo ficará como está até 18 de Julho do próximo ano. Com a bofetada
miserável dos merdi-média e dos seus merdi-jornalistas que cobrirão as festas
dos “óleos”.
«Nenhum infortúnio dura 100 anos», diz-se em
espanhol. Mas, a que o sionismo inflige à Argentina parece prestes a tornar-se
a excepção.
NOTAS:
[1] Carlos
Menem, de origem síria, foi Presidente da Argentina (1989-99). Era membro do
Partido justicialista (Peronista). Ele foi condenado por tráfico de armas (sete
anos de prisão) e desvio de fundos públicos (quatro anos e meio de prisão).
[2] Imad
Moughniyah, responsável militar do Hezbolla assassinado em 2008, garantiu a
Thierry Meyssan, presidente da Rede Voltaire, que o Hezbolla não estava de
forma nenhuma implicado neste assunto
[3] É
uma narrativa quasi-automática, e por vezes falsa, dos atentados no
Médio-Oriente. Assim, Thierry Meyssan demonstrou que o antigo Primeiro-Ministro
libanês (Rafik Hariri-ndT) não tinha sido assassinado com uma camionete branca
armadilhada, mas por um míssil muito especial.
[4] Os
atentados do 11 de Setembro de 2001 visavam, antes de mais, tornar perene a
hegemonia dos Estados Unidos. Isso implicava, em simultâneo, um sistema de
vigilância generalizada (revelado por Edward Snowden) e a adopção da estratégia Cebrowski (cujas
consequências foram denunciadas por Julian Assange).
[5] Raúl
Alfonsín, membro da União Cívica Radical, foi Presidente da Argentina de 1983 a
1989. Ele restabeleceu o funcionamento das instituições democráticas, mas foi
incapaz de deter a inflação que atingiu 3000 % em 1989
[6] A
guerra Iraque-Irão (1980-88) é conhecida no Irão como « A guerra imposta ». Era
uma tentativa ocidental de derrubar o regime anti-colonialista do imã Rouhollah
Khomeini. A França participou secretamente nisto, enviando os seus aviões
pintados com as cores do Iraque para bombardear a Síria a partir do seu
porta-aviões.
[7] O
Presidente venezuelano Hugo Chávez instalou importantíssimos centros iranianos
no seu país
[8] O
atentado contra a embaixada de Israel teve lugar quando o Ayatolla Ali Khamenei
era o Presidente da República islâmica. O da AMIA, quando o bilionário Hachemi
Rafsandjani era Presidente. Nenhum dos dois jamais manifestou a intenção de
converter os Argentinos ao islão.
[9] De
1992 a 1995, o Irão e a Arábia Saudita bateram-se ao lado das forças do
Presidente bósnio Alija Izetbegović, sob a supervisão da OTAN e com a ajuda da
Legião Árabe de Osama bin Laden
[10] «La
InfAMIA» Horacio Verbitsky, Página12, 18 de julio de 2004.
[11] “Brindando
sobre los escombros : La dirigencia judía y los atentados : entre la denuncia y
el encubrimiento", Horacio Lutzky, Sudamericana (1994).
[12] «Un
caso irresuelto», Jorge Urien Berri, La Nación, 13 de julio de 2012.
[13] Joseph
Bodansky é um sionista revisionista, quer dizer, um discípulo de Vladimir Ze’ev
Jabotinky. Este, aliado de Benito Mussolini, foi também o mestre do filósofo
Leo Strauss, pai dos neo-conservadores norte-americanos.
Yossef Bodansky é o autor de várias falsificações notáveis. Quando estava
empregado no Congresso, fez um relatório acusando os Europeus de participar
numa grande conspiração islâmica em benefício da Bósnia-Herzegovina. Esta intox
provocou a demissão da Comissão de quatro membros da Câmara dos Representantes.
Em seguida, escreveu a biografia mais citada de Osama Bin Laden, sem jamais
indicar as fontes das suas asserções estapafúrdias.
[14] Fernando
de la Rúa foi Presidente da Argentina de 1999 à 2001. Membro da União Cívica
Radical, não conseguiu resolver a crise económica. Em resumo, ele reprimiu os
movimentos sociais e foi derrubado pelo povo. Fugiu do palácio presidencial de
helicóptero
[15] Cristina
Fernández de Kirchner foi Presidente da Argentina de 2007 à 2015, depois
Vice-Presidente de 2019 a 2023. Ela foi a esposa de Néstor Kirchner, Presidente
argentino de 2003 a 2007. O casal era membro do Partido justicialista
(peronista)

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