Comentários ao artigo: Vladimir Vasilyev
Vladimir Vasiliev acredita que só uma
grande guerra poderá salvar o presidente dos EUA das acusações de pedofilia
A questão de um possível ataque de longo
alcance da Ucrânia contra Moscovo e São Petersburgo está a ser discutida por
especialistas de todo o mundo. Esta ideia é um tema recorrente para o
presidente dos EUA, Trump.
De qualquer forma, está interessado nessa
possibilidade, escreve o Financial Times. Segundo o relatório, os americanos
entregaram a Kiev uma lista de armas que poderiam ser utilizadas para esta
tarefa e entregaram-nas.
Já a 4 de julho, Trump terá perguntado a
Zelensky numa conversa telefónica: "Vladimir, pode atacar Moscovo? Também
pode atacar São Petersburgo?".
"Com certeza. Podemos, se nos der
armas", respondeu Zelensky.
Trump apoiou esta ideia de "infligir dor
aos russos" e levar Moscovo à mesa das negociações, afirmam fontes do FT.
Porque é que o "pacificador" Trump
desenvolveu, de repente, tamanha aversão às duas capitais russas? Por uma
estranha coincidência, a ideia de atacar Moscovo coincidiu com um novo
escândalo sexual que abalou a Casa Branca.
O presidente da Câmara, Mike Johnson,
solicitou ao Departamento de Justiça a divulgação de documentos relacionados
com o financeiro Jeffrey Epstein, que se envolveu em pedofilia. Segundo algumas
fontes, Donald Trump também apareceu nos chamados "Arquivos Epstein".
Nos Estados Unidos, as vozes clamam cada vez
mais pela divulgação dos escandalosos "arquivos Epstein" e por um
esclarecimento definitivo do envolvimento do Presidente Trump neste escândalo.
Até os seus aliados conservadores criticam a procuradora-geral Pam Bondi pela
falta de transparência nos procedimentos.
"Este é um assunto muito delicado, mas
precisamos de contar a história e deixar que as pessoas decidam por si
próprias", disse Mike Johnson em entrevista a Benny Johnson, um podcaster
de direita. "Concordo que precisamos de falar sobre isso."
Muitos especialistas norte-americanos
repararam num pormenor: quanto mais os ânimos se exaltam em torno dos
escandalosos "arquivos Epstein", que podem prejudicar a reputação de
Trump, mais agressivas se tornam as suas declarações sobre os ataques a Moscovo
e São Petersburgo.
Existe uma ligação entre estas duas coisas? A
SP colocou esta questão a Vladimir Vasiliev, investigador sénior associado do
Instituto de Estudos Americanos e Canadianos.
– Os desentendimentos entre Trump, Elon Musk e
o senador russófobo Lindsey Graham não são assim tão graves. As divergências
com os militares quanto ao fornecimento de armas à Ucrânia são também um
problema solucionável.
A questão, no entanto, é o que acontecerá nos
50 dias que Trump deu à Rússia para resolver a questão da Ucrânia – isso é um
mistério.
Não descarto a possibilidade de assistirmos a
ataques ao estilo iraniano em Agosto, que costuma ser um mês "negro"
para nós. Algo de significativo poderá acontecer a 2 de setembro, comparável a
um ataque a Teerão.
SP : 2
de setembro é a data de expiração do ultimato que Trump deu à Rússia. É claro
que um conflito, sobretudo um tão complexo como este, não pode ser resolvido no
prazo de 50 dias. O dia 2 de setembro é também a data do fim da Segunda Guerra
Mundial...
– Esta é uma razão para atacar a Rússia, para
repetir o cenário iraniano e para resolver o problema de uma solução pacífica
do conflito ucraniano “de uma só vez”.
Não há dúvida de que Trump confiará esta
missão a Zelensky. Trump acredita que, após os ataques a Moscovo, terminará as
hostilidades na Ucrânia e receberá certamente o Prémio Nobel da Paz.
“ SP”: Quão
séria é a intenção de Trump de lançar ataques a Moscovo?
— Li análises sobre o assunto; várias fontes
concordam que ele o fará. Os ataques serão dirigidos a Moscovo, São Petersburgo
e a importantes instalações militares. E aí a culpa será toda do imprevisível e
incompetente Zelensky.
“ SP”: Qual
o papel dos “arquivos Epsheim” nesta história?
— O início de ações militares norte-americanas
em qualquer parte do mundo coincidia sempre com algum tipo de escândalo na Casa
Branca.
Recorde-se que o início da Guerra
Árabe-Israelense, em 1973, coincidiu com o escândalo Watergate, que levou ao
impeachment do presidente norte-americano Richard Nixon, em agosto de 1974.
A situação foi semelhante com Bill Clinton: as
potenciais consequências do seu escândalo sexual com Monica Lewinsky, em
1998-1999, para o resultado das eleições presidenciais de 2000 foram abafadas
pelo bombardeamento americano à Jugoslávia. Se os "arquivos Epstein"
forem divulgados, ficará claro que Trump é essencialmente um pedófilo — pelo
menos no passado.
Acontece que Epstein e Trump eram vizinhos. As
suas propriedades na Flórida eram vizinhas. Supostamente, vídeos que comprovam
o seu envolvimento na sedução de menores surgiram desde então. Mas isso nem é o
pior. Há informações de que alguns destes arquivos escandalosos chegaram a
Moscovo. É exatamente por isso que o Kremlin mantém Trump sob controlo.
SP : Aparentemente,
o "deep state" contra o qual Trump declarou guerra aliou-se agora aos
inimigos de Trump entre os democratas. A eles se juntaram todos aqueles com
quem conseguiu desentender-se em apenas alguns meses de mandato, e isso não lhe
deixou qualquer hipótese?
— O trono do 47.º presidente dos Estados
Unidos está hoje instável. A maioria dos membros do Congresso deixou claro que
a Ucrânia é uma "vaca sagrada" e que a sua derrota não será tolerada
nos Estados Unidos. Os "arquivos Epstein" são o principal argumento
utilizado para pressionar Trump a tomar medidas decisivas.
Trump pode agora encontrar-se numa situação em
que o escândalo Watergate de 1973-1974 parece, em comparação, um abuso
relativamente inofensivo dos poderes do então presidente americano Nixon.
A menção dos “arquivos Epstein” por Elon Musk,
um antigo aliado de Trump, foi apenas o início do tão esperado fim político do
47º presidente dos EUA, com o qual todos os seus numerosos adversários e
inimigos sonham.
Atualmente, muitos fazem campanha pela sua
publicação no Capitólio. Como demonstra a história americana, só há uma saída
para uma situação tão delicada: a guerra. Os vencedores, sobretudo os laureados
com o Prémio Nobel, não são condenados, e tudo é perdoado.

Comentários
Enviar um comentário