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O plano da União Europeia para moldar uma sociedade em guerra permanente

Elaboração

A União Europeia já elaborou um plano para moldar uma sociedade em estado de guerra permanente, onde tudo, desde hospitais a routers, pode ser reutilizado para fins militares. Chama-se Readiness 2030 e transforma o Velho Continente num campo de treino.

A guerra não é declarada, é institucionalizada. O objectivo é transformar cada Estado-membro da União Europeia numa base logística e cognitiva para a NATO, uma plataforma submissa, interligada e passiva. A defesa comum europeia deve ser esquecida (2). O plano é a integração funcional no aparelho estratégico atlântico, com a máxima centralização e zero supervisão pública.

“A infraestrutura crítica é a espinha dorsal da resiliência estratégica. Cada um dos seus elementos deve ser concebido para a mobilização em cenários complexos e multidomínios”, refere o documento (p. 20).

Toda a infra-estrutura civil (estradas, caminhos-de-ferro, portos, centrais eléctricas, hospitais, escolas) deve ser compatível com o uso militar. Se necessário, deve ser rapidamente convertida. Chamam-lhe "uso duplo".

As redes de energia e digitais devem ser à prova de bomba: redundantes, blindadas e controladas por protocolos de segurança militar contra apagões. Em caso de crise, os comandantes civis serão substituídos por centros de comando conjuntos. A proteção física e digital deve ser concebida para suportar cenários de alta intensidade, incluindo ameaças híbridas e cibernéticas (p. 16).

As indústrias estratégicas (siderurgia, eletrónica, farmacêutica, automóvel) devem poder migrar da produção civil para a militar sem aviso prévio ou debate, sob proteção legal e com incentivos públicos. A base industrial europeia deve estar preparada para uma rápida reestruturação, de forma a apoiar a cadeia de abastecimento da defesa (p. 19).

A população deve ser preparada, treinada para se adaptar passivamente a crises sistémicas. Todos os canais devem ser utilizados para preparar psicologicamente os cidadãos para as emergências: escolas, meios de comunicação social, protecção civil... Uma sociedade formada é uma sociedade consciente, capaz e informada (p. 21).

As instituições civis devem preparar planos de continuidade: bunkers, sucessões políticas de emergência, redes de comando alternativas, comunicações encriptadas… A continuidade do governo e a continuidade das operações são elementos-chave na preparação (p. 19).

Qualquer versão alternativa de informação ("desinformação") deve ser neutralizada. Estão a ser planeadas forças-tarefa cognitivas, filtros digitais e campanhas de guerra psicológica para "proteger a integridade da informação". O controlo da informação é "essencial para evitar o pânico e garantir a coesão social" (p. 22).

O financiamento será proveniente de fundos europeus, do PNRR (3), de ajudas públicas, do Fundo Horizonte, do Mecanismo Interligar a Europa e de parcerias com empresas privadas. «Os investimentos deverão ser apoiados por instrumentos financeiros europeus e nacionais, em cooperação com o sector privado» (p. 23).

A distinção entre guerra e paz desaparece. O documento utiliza a terminologia habitual: segurança, sustentabilidade, inclusão, coesão... Mas o significado não deixa margem para dúvidas. Toda a estrutura civil é agora um potencial quartel. Cada cidadão é um alvo adaptável que deve ser gerido e previsto.

(1) https://commission.europa.eu/document/download/e6d5db69-e0ab-4bec-9dc0-3867b4373019_en?filename=White+paper+for+European+defence+%E2%80%93+Readiness+2030.pdf
(2) https://defence-industry-space.ec.europa.eu/eu-defence-industry/introducing-white-paper-european-defence-and-rearm-europe-plan-readiness-2030_en
(3) PNRR significa Plano Nacional de Recuperação e Resiliência, aprovado pela União Europeia para ajudar os Estados-Membros a recuperarem dos efeitos económicos e sociais da pandemia. Faz parte de um pacote mais vasto denominado “
Next Generation”, que está agora a alocar verbas para o rearmamento.

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