Costa e o governo PS são acusados de falta de
responsabilidade, de estarem presos por um fio, não conseguirem colocar ordem
na casa, onde facilmente um simples e reles adjunto do ministro furta um
computador do estado contendo, eventualmente ou quase de certeza, assuntos top
secret, relacionados com o negócio de privatização da TAP; processo este
que, por sua vez, está recheado de peripécias e episódios que não deveriam ter
acontecido mas que são, para regozijo da dita, escalpelizados e aproveitados
por toda a imprensa mainstream para descredibilizar o governo e o seu chefe. E
perguntar-se-á uma vez mais: o que faz correr esta gente contra o governo e
desejar a demissão de uma figura sem grande perfil, detentora de uma pasta
ministerial que, relembremos, até foi dividida em duas antes da tomada de posse
de Galamba, era das Infraestruturas e da Habitação?
A disputa pelo pote
A resposta mais óbvia é a de, como se sói
dizer popularmente, haver muitos cães a um osso. E o osso é “apenas”
mais de 50 mil milhões de euros (50 000 000) em obras que irão ser
administradas pelo ministério das Infraestruturas. É muita massa, e os diversos
grupos de interesses, os tais poderes fáticos, estão ansiosos por abocanhar a
maior fatia possível do bolo: 8 mil milhões: Novo aeroporto; 2 mil milhões:
Ferrovia 2020, a concluir até final de 2023; 23 mil milhões: Acordo de Parceria
entre Portugal e a Comissão Europeia, com aplicação entre 2021 e 2027; 16,6 mil
milhões: Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) mas que poderá ultrapassar os
20 mil milhões de euros, que terão de ser aplicados até 2026. Ou seja, será
mais de um terço de todos os fundos (150 mil milhões de euros) que Portugal
(não o povo português) recebeu desde a entrada na então CEE e agora União Europeia.
Percebe-se que a disputa é feroz e tudo serve para destruir o governo e ejectar
o ministro. Claro que o bolo é repartido pelos diversos grupos da elite
nacional, no entanto, as comissões a distribuir pelos governantes de turno
serão mais que principescas; ora, mantendo-se o PS, PSD e quejandos ficarão a
chuchar no dedo.
Esta é que é a verdadeira razão de toda a
discórdia, de todo o palrar das catatuas e outras aves raras que têm surgido
ultimamente nos ecrãs televisivos e nas páginas dos jornais a vociferar e a
lançar perdigotos: “Costa e Governo arrasados!”, Costa possui uma “frieza
psicopata”, é um “jogador de xadrez manhoso”, o que poderá significar
batoteiro, um “aldrabão” que tenta disfarçar a sua posição de “derrotado”
perante Marcelo, etc.. Quem mais se tem destacado nos ataques, entre toda a
oposição, é o aparelho comunicacional de Balsemão, colocado inteiramente ao
serviço do PSD, do qual é o sócio fundador nº1, e de Marcelo. O senador do
regime, velho play boy fascista reciclado em democrata, não está com
meias palavras: “Não queremos nada com a extrema-direita” (será para
disfarçar?) nem “com este PS”. Balsemão está com Marcelo, apesar dos
desaguisados quando este era seu empregado no “Expresso”, e, como é natural,
defende o PSD: “temos de acompanhar – ou comboiar, como quiserem – a fase final
do mandato do atual Presidente da República. A maior oposição ao governo parece
vir de fora do espectro partidário. Serão os ocultos poderes fáticos que actuam
nos bastidores?
Quanto aos partidos da putativa “oposição”, as
reacções mais não denotam do que fraqueza, cobardia e hipocrisia, seja à
direita ou à esquerda. E não deixa de ser curioso que os ataques ao governo e
ao Costa por não se ter desenvencilhado de Galamba venham precisamente do
interior do próprio PS. O ex-ministro da (também dita) Solidariedade, se não
estamos em erro, terá sido o primeiro botar faladura, atribuindo à trapalhada
que se passou no ministério das Infraestruturas, furto de computador, eventuais
agressões a funcionárias pelo ressabiado adjunto, cujo comportamento raia a de
um vulgar provocador, às disputas pela sucessão de Costa; rematando mais tarde
com a sugestão de: “um pouco mais de maturidade à governação”. Outra militante,
possivelmente igualmente ressabiada por não ter sido continuado no governo, Alexandra
Leitão, arrota que Costa “acorrenta-se” ao dossiê TAP e “deveria remodelar”.
São da mesma opinião o César dos Açores, que terá arranjado emprego para alguns
dos familiares, e o sucessor frustrado de Mário Soares, agora comentador
televisivo que se gaba de ter enriquecido à custa da especulação com as
criptomoedas, afinam pelo mesmo diapasão. Como se constata, a disputa pelo pote
também se verifica dentro do partido que ainda é governo.
Bicha de rabear em vez de bomba atómica
Falar da oposição, talvez seja um trabalho vão
e supérfluo pela simples razão da sua inutilidade como força oponente ao
partido do governo. O PSD agarra-se às saias de Marcelo, reconhecendo a sua
impotência e cobardia, como o arruaceiro de serviço, Miguel Pinto Luz, a
vociferar: “Costa vai sentir, pela primeira vez, um Marcelo que não
conhecia”. Ora, depois do moço de recados presidências ter vislumbrado na bola
de cristal que: “Galamba não tem quaisquer condições para continuar no Governo,
Costa pode já estar a preparar uma remodelação”, Marcelo encolheu-se, abdicado
da “bomba atómica” e lançou a bicha de rabear: o governo fica, mas é avisado de
que: “Esta é a fase de ser o último fusível de segurança”. Reacções: «PSD
respeita conclusões de Marcelo Rebelo de Sousa e avisa que culpa de
instabilidade será de António Costa»; Marcelo, o “novo” Marcelo, será o chefe
da oposição devido á demissão de Montenegro!
À esquerda, o PCP ainda foi o partido com mais
recato e prudência nas considerações relativas à esperada e desejada demissão
do governo ou dissolução do Parlamento, é que os tempos não vão de feição para
novas eleições legislativas, como se diz, gato escaldado de água fira tem
medo. O BE, pela boca da sua mediática dirigente, vai mandando umas bocas,
talvez para não ser acusado de “não fazer nada”, do género e pouco original: “Cabe
a Marcelo e Costa tirarem Portugal do pântano”, “todo o Governo está
fragilizado”, “onde está Costa de peito feito para afrontar o BCE?”.
Depois de ter dado o oiro ao bandido com o apoio à formação da “geringonça”,
sofrendo os custos de tal negócio através de brutal perda de votos, o BE ainda
acredita em duas coisas: ser alguma vez governo substituindo o PS, à semelhança
do que aconteceu na Grécia com o Pasok e o Syriza; ser possível reformular o
capitalismo acabando com as suas profundas e violentas crises estruturais. Entrementes,
o BE faz uma visita aos seus amigos neo-fascistas de Kiev, o “anti-fascismo”
será só para uso interno.
Perante toda a disputa, os ataques mútuos, uma
excessiva algazarra mediática e fanfarronice por parte dos políticos do
establishment, fica-se com uma dúvida: não será tudo isto uma tremenda
encenação para iludir o Zé Povinho? Sabe-se que sempre que um dos partidos do bloco
central de interesses se encontra no governo não toma nenhuma medida
importante sem ter o acordo prévio do outro, então por que razão toda esta
chinfrineira? Galamba parece ter industriado a CEO da TAP nas respostas que
deveria dar à comissão de inquérito, quando escreveu a carta de demissão não
terá sido também por sugestão de Costa que já sabia a resposta a dar? Antes de
Marcelo ter tomada a posição que tomou, Costa já não saberia do conteúdo do
discurso visto que momentos antes tinha estado em reunião com Marcelo em Belém?
Mas alguém ainda acredita que algum ministro tome qualquer posição política ou
decisão sem ter o visto prévio do primeiro-ministro? Haverá alguma dúvida sobre
o que une esta gente é muito mais forte do que aquilo que os divide?
Os “bons resultados” económicos
Enquanto a oposição lambe as feridas deste
desaire, o governo vai gabando-se dos seus feitos e glórias, os “bons
resultados” de Medina, a nível da economia: diminuição (percentual) da dívida
pública; aumento do PIB nacional, um dos mais elevados da UE; abrandamento da
inflação; “excelente desempenho” da economia que se “traduz” nos bolsos dos
portugueses com o aumento das pensões e da “reforma” para a “dignificação” do
trabalho; garantia da paz social, a greve dos maquinistas da CP foi resolvida
pela mediação do ministro tão contestado (afinal, para alguma coisa vai
servindo), depois de ter pagado os salários dos funcionários judiciais
relativos aos dias em que estiveram de greve, a ministra da tutela já garantiu
que os problemas serão resolvidos com a aprovação do estatuto dos funcionários.
E em relação aos professores, o governo vai entretendo com algumas medidas
pontuais e espera que luta acabe por cansaço. Enquanto o PS garantir a paz
social – e não nos cansamos de salientar a importância deste seguro de vida do
governo – terá sempre o futuro garantido por muito que estrebuchem os partidos
da oposição e o comedor de gelados que, ele sim, dá pouca ou nenhuma dignidade
à função de que foi investido, nem autoridade ao órgão de soberania que
representa.
PS vai assessorando e gerindo os negócios das
grandes empresas que operam em Portugal, nacionais ou estrangeiras, pouco
importa desde que os lucros não parem de aumentar: lucros da GALP sobem 62%
para 250 milhões de euros no primeiro trimestre; EDP pagou aos acionistas 795
milhões de euros em dividendos referentes aos lucros do ano passado e espera
lucros de 1,1 mil milhões de euros este ano; há 2,4 mil milhões em dividendos
para os acionistas das empresas do PSI que por acaso possuem a sede na Holanda;
lucro do grupo Brisa sobe para 240,8 milhões de euros em 2022; lucros da
Jerónimo Martins subiram quase 60% no primeiro trimestre de 2023; lucros do
Santander sobem 19,6% para 186 milhões de euros; BPI teve lucros consolidados
de 85 milhões de euros no primeiro trimestre, mais 75% do que nos primeiros
três meses do ano passado, na operação em Portugal, os lucros do banco mais do
que duplicaram, para 73 milhões de euros. E poder-se-ia continuar, ou seja, enquanto
o grande capital ver os lucros a crescerem a olhos vistos o governo pode dormir
descansado.
O povo que se lixe!
Se a grande maioria do povo se vê aflito em
pagar as prestações dos empréstimos da casa ao banco, o BCE subiu de novo as
taxas de juro e irá aumentar mais até ao final do Verão; se a habitação e a
alimentação estão cada vez mais caras; se em Portugal trabalha-se mais 4 horas
que a média europeia, mas ganha-se salários mais baixos; se os sectores da
economia que geram mais riqueza têm salários abaixo da média; se os salários e
pensões suportam mais de 90% do IRS; se o SNS vai-se degradando com desvio dos
investimentos para o sector privado a quem o governo aluga os blocos
operatórios porque no público ou não existem ou estão às moscas… que se amanhem
e estejam quedos e mudos, porque o “PS faz o melhor que pode”, “os outros já cá
estiveram e não fizeram melhor” – dizem os indefectíveis apoiantes. Além da
hipocrisia de Marcelo que “pede reflexão sobre taxas e prestações no crédito à
habitação”, quando visitou o negócio do Banco Alimentar Contra a Fome, ou do
ainda líder do PSD que, sem se rir, proclamou: o “país está a perder mais
bem-estar do que no período da troika”. Gente que não presta, mas é o que
temos!
Até quando teremos de aturar esta corja?!
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