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A inocência tardia de Milosevic

 

Populares apoiam memória de Milosevic em sua tumba, em Belgrado

Mário Augusto Jakobskind

São passados dez anos que o então presidente da Sérvia, Slobodan Milosevic morreu quando se encontrava preso nas masmorras de um Tribunal internacional, depois de ter sido condenado de antemão pela mídia Ocidental. Milosevic chegou a ser comparado com o genocida Adolf Hitler.

Pois bem, nestes dias, sob total silêncio da mesma mídia que o condenou, por unanimidade o Tribunal Internacional de Haia reconheceu tardiamente a inocência de Milosevic, que inclusive morreu em circunstâncias até agora mantidas de forma a se evitar que pairasse alguma desconfiança sobre as verdadeiras causas.

Era rotina mediática conservadora justificar não apenas os bombardeios da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Sérvia e em Kosovo, como também as sanções econômicas contra o país presidido por Milosevic .

Nesta batida, Milosevic passou os últimos cinco anos de sua vida preso esperando a conclusão das investigações do Tribunal, que aconteceu somente agora.

Foi reconhecido que Slobodan Milosevic, além de defender o seu país, tentou deter os crimes cometidos durante a guerra em que a Otan bombardeava diariamente a região, utilizando falsas argumentações, como agora assinala o Tribunal Internacional de Haia.

Como se não bastasse esse grosseiro exemplo de manipulação da informação, que continua, como se vê com o silêncio mediático sobre o atual veredicto, sempre houve fortes indícios que Milosevic morreu em circunstâncias duvidosas.

Em suma, Milosevic, garante o Tribunal de Haia, não participou de nenhuma “empresa criminal conjunta” para “limpar etnicamente” a Bósnia de muçulmanos e croatas.

Tudo que tinha sido divulgado a respeito carece de fundamento, até porque os juízes concluíram que “Slobodan Milosevic tinha afirmado então que os membros de outras nações e grupos étnicos deviam ser protegidos, e que no interesse nacional dos sérvios não deve figurar a discriminação contra outras etnias”.

Além disso, o próprio Milosevic declarou em alto e bom tom que “os crimes dos grupos étnicos deveriam ser combatidos com energia”.

Na verdade, o próprio Tribunal de Haia não se esforçou para que o relatório conclusivo de 2.590 se tornasse público. É possível que os próprios responsáveis pelo Tribunal contassem que dificilmente alguém leria um relatório desse tamanho.

Noticia ainda o Resumem Latinoamericano que Milosevic foi encontrado morto em sua cela 72 horas depois que o seu advogado enviara uma carta ao Ministério de Relações Exteriores da Rússia, em que denunciava que Milosevic estava sendo deliberadamente envenenado.

Em um informe oficial do Tribunal de Haia sobre a investigação realizada acerca de sua morte, se confirmou o encontro de um medicamento (rifamicina) em uma análise de sangue realizado depois da morte e que nunca tinha sido ministrado por seus médicos.

A rifamicina neutralizava os efeitos de um outro medicamento que Milosevic ingeria contra a pressão alta, o que multiplicou as possibilidades de que sofresse um infarto.

Tais fatos demonstram que muitas vezes, antes mesmo de uma sentença definitiva, alguém pode ser julgado antes do tempo pela mídia conservadora. A história, como se sabe, está plena de exemplos nesse sentido.

No caso de Milosevic houve sempre a suspeita de que poderosos interesses geopolíticos preferiam vê-lo morto antes da finalização do julgamento que o inocentou.

Aguarda-se que em determinado momento algum órgão de imprensa noticie pelo menos parte da informação divulgada aqui.

Mário Augusto Jakobskind -  É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes – Fantástico/IBOPE

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